domingo, junho 06, 2010

Labirinto



Não haverá nunca uma porta.
Estás dentro
E o alcácer abarca o universo.

Borges

Cambridge



Somos nossa memória
somos esse quimérico museu de formas inconstantes,
esse montão de espelhos rotos.

Borges

Heráclito



"Talvez o manancial esteja em mim.
Talvez de minha sombra,
fatais e ilusórios, surjam os dias."

Borges

James Joyce



"Num dia do homem estão todos os dias do tempo"
Borges

O Escriturário



I would prefer not to.

Bartebly

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Filósofo Mascarado



Eu compreendo bem o mal-estar de todos esses. Foi, sem dúvida, muito doloroso, para eles, reconhecer que sua história, sua economia, suas práticas socias, a lingua que falam, a mitologia de seus ancestrais, até as fábulas que lhes contavam na infância, obedecem a regras que não se mostram inteiramente à sua consciência; eles não desejam ser privados, também e ainda por cima, do discurso em que querem poder dizer, imediatamente, sem distância, o que pensam, crêem ou imaginam; vão preferir negar que o discurso seja uma prática complexa e diferenciada que obedece a regras e a transformaçõs analisáveis, a serem destituídos da frágil certeza, tão consoladora, de poder mudar, se não o mundo, se não a vida, pelo menos o seu "sentido", pelo simples frescor de uma palavra que viria apenas deles mesmos e permaneceria o mais próximo possível da fonte, indefinidamente. Tantas coisas em sua linguagem já lhes escaparam: eles não querem mais que lhes escapem além disso, o que dizem, esse pequeno fragmento de discurso - falado ou escrito, pouco importa - cuja débil e incerta existência deve levar sua vida mais longe e por mais tempo. Não podem suportar (e os compreendemos um pouco) ouvir dizer: "o discurso não é a vida; seu tempo não é o de vocês; nele, vocês não se reconciliarão com a morte; é possível que vocês tenham matado Deus sob o peso de tudo o que disseram; mas não pensem que farão, com tudo o que vocês dizem, um homem que viverá mais que ele."

Foucault



Eu nunca escrevi nada além de ficções, e tenho perfeita consciência disso. Apesar de tudo, eu não gostaria de dizer que essas ficções estão fora da verdade.Acredito que seja possível fazer funcionar a ficção no interior da verdade, de introduzir os efeitos de verdade com um discurso de ficção e, assim, fabricar, no discurso da verdade alguma coisa que ainda não existe, o ficcionalizando.Podemos ficcionalizar a história a partir de uma realidade política que a torna verdadeira, e ficcionalizamos uma política que ainda não existe a partir de uma verdade histórica.

Foucault


















"Eu não admito nem a noção de domínio, nem a universaidade da lei. Ao contrário, eu me dedico a capturar os mecanismos de exercício efetivo de poder, e eu o faço porque aqueles que estão inserido nessas relações de poder, que nelas estão implicados podem, nas suas ações, na sua resistência e na sua rebelião, delas escapar, transformá-las, em suma, não mais se sujeitar. E se eu não digo o que é preciso fazer, não é porque eu ache que não há nada a se fazer. Muito pelo contrário, eu penso que há mil coisas a se fazer, a se inventar, a se forjar por parte daqueles que reconhecendo as relações de poder nas quais estão implicados, decidiram resistir a elas ou delas escapar. Sob esse ponto de vista, toda minha busca repousa sobre um postulado do otimismo absoluto."

M. Foucault

domingo, janeiro 31, 2010

Nada, Sorocaba



















comportas abertas




















sorria


segunda-feira, dezembro 14, 2009



















"O mais profundo é a pele"
Paul Valéry


















"Toda vida é, obviamente, um processo de demolição"

Fitzgerald


















"Deus, um monossílabo de extraordinário sucesso"

Bioy Casares

domingo, novembro 22, 2009

Resumo de Brás Cubas



















Ao verme
que
primeiro roeu as frias carnes
do meu cadáver
dedico
estas
Memórias Póstumas


















Algum tempo hesitei se devia abrir essas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte.


















Morri de uma pneumonia, mas se lhe disser que foi menos a pneumonia, do que uma ideia grandiosa e útil, a causa da minha morte, é possível que o leitor não creia, e todavia é verdade. Vou expor-lhe sumariamente o caso. Julgue-o por si mesmo.


















Um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas.


















A minha ideia, depois de tantas cabriolas, constituíra-se em ideia fixa. Deus te livre, leitor, de uma idéia fixa; antes um argueiro, antes uma trave no olho.


















Essa idéia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplastro anti-hipocondríaco, destinado a aliviar nossa melancólica humanidade.


















o melhor que há, quando não se resolve um enigma, é sacudi-lo pela janela fora.


















Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis.


















Assim eu, Brás Cubas, descobri uma lei sublime, a lei da equivalência das janelas, e estabeleci que o modo de compensar uma janela fechada é abrir outra, a fim de que a moral possa arejar continuamente a consciência.


















Invenções há, que se transformam e se acabam; as mesmas instituições morrem; o relógio é definitivo e perpétuo. O derradeiro homem, ao despedir-se do sol frio e gasto, há de ter um relógio na algibeira, para saber a hora exata em que morre.


















Não alcancei a celebridade do emplastro, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve nem míngua nem sobra. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo: Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

quarta-feira, agosto 05, 2009



















A criação toda é abstrata. O espaço inteiro é abstrato. Tudo é abstrato. Estamira também é abstrato.

Estamira


















"Eu sou ruim, mas não sou perversa. Ruim, não perversa. E não vou deixar de ser ruim".

Estamira


















“O homem é o único condicional”

(Estamira)


















“A minha missão é ensinar o que eles não sabem: os inocentes.
Aliás, não tem mais inocente. Tem é esperto-ao-contrário”.


(Estamira)

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Sacramento



















Toco
toco poros
amarras
baías toco
teclas de nervo
molas
tecidos que me tocam
cicatrizes
cinzas
trópicos ventres toco
solos solos
ressacas
estertores
toco e mais toco
e nada

(Tropos - Oliverio Girondo)

A desenhista



















Convencidos de caducidad
por tantas nobles certidumbres del polvo,
nos demoramos y bajamos la voz
entre las lentas filas de panteones,
cuya retórica de sombra y de mármol
promete o prefigura la deseable
dignidad de haber muerto

(La Recoleta - Jorge Luis Borges)

Pombos de Mayo



















os pombos,
a praça,
o menino,
à sombra
das mães
e dos mortos

























São casas simples com cadeiras na calçada
e na fachada escrito em cima que é um lar
Pela varanda flores tristes e baldias
com a alegria que não tem onde encostar

Chico Buarque


















Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Drummond

Beira-rio



















Os dentes ao sol
E o escuro momento
Do girassol no muro
Enlouquecendo

Hilda Hilst